Ter um filho pode ser muito excitante, mas também pode ser stressante visto que implica várias mudanças para todos os envolvidos, nomeadamente para os irmãos mais velhos.
A preparação para um segundo filho é um pouco diferente do que para um primeiro, visto que agora existe uma nova variável importante - o filho mais velho. Assim, é natural que, nesta fase inicial de preparação, se questione sobre como contar, quando contar, como será que ele vai reagir, etc.
No geral, é importante preparar as crianças para o nascimento de um irmão. Elas detetam mudanças, tanto no corpo, como no comportamento da mãe (ex. Não consegue pegar ao colo). Neste sentido, é importante que lhes explique o porquê destas alterações. Não existem receitas, até porque as crianças não têm todas o mesmo nível de compreensão, dependendo muito da sua idade. Para as crianças mais novas, a ideia de um bebé a crescer na barriga da mãe pode ser difícil de entender, sendo importante ajudar a tornar este conceito abstrato em algo mais compreensível, mas apropriado à idade da criança.
As crianças também não reagem todas da mesma forma, mesmo em idades semelhantes. Ainda assim, é natural que os filhos mais velhos, tenham sentimentos ambíguos. Muitas crianças mostram-se bastante entusiasmadas quando o bebé ainda está na barriga da mãe, mas, quando se torna real, surgem diferentes sentimentos. Por um lado, podem amar intensamente os irmãos, por outro, podem ficar zangados e ressentidos por terem de partilhar a atenção e “tudo” o que antes era só deles. é importante compreender que os filhos mais velhos podem passar por uma fase de maior dependência dos pais, de mais birras, regressões, e de expressão de sentimentos negativos em relação ao bebé… Assim, será importante ajudar as crianças na gestão destes sentimentos.
Lembre-se que, embora levar um novo bebé para casa possa ter os seus momentos stressantes, podendo envolver algum o choro, confusão e disputas, também contribui para desenvolver outras competências nas crianças, nomeadamente partilha, cooperação, empatia, resolução de problemas, etc.
O mais importante é conhecer bem os seus filhos e estar atento aos seus sinais e necessidades, procurando dar-lhes uma resposta adequada mantendo, simultaneamente, a estabilidade e consistência do mundo da criança, em termos de regras, rotinas e limites, para que esta continue a sentir segurança, controlo e previsibilidade. No fundo, a criança precisa de se adaptar a este novo elemento na família e de sentir que o seu lugar não está posto em causa, que continua a ser tão amada como era e a ter atenção e disponibilidade dos pais (mesmo que agora tenha que as partilhar mais vezes). Ser sensível a isto vai ajudá-lo a dar o suporte e a tranquilidade de que as crianças precisam para se adaptarem a esta mudança.
Sugestões:
- garanta a supervisão para manter a segurança dos seus filhos. Muitas vezes os filhos mais velhos não sabem bem como tocar e interagir com o bebé e podem magoá-lo mesmo sem querer. Ensine o seu filho a interagir de forma segura com o bebé. Caso a criança faça algo mais brusco ou agressivo, procure retirar as mãos calmamente e mostrar como deve fazer (ex. "podes fazer miminhos ou coceguinhas ao bebé, assim. ").
- Assegure-se que continua a dar atenção individualizada ao seu filho mais velho, tendo alguns tempos especiais só com ele. Procure manter, também, o mesmo comportamento com a criança, os mesmos limites e regras, não cedendo a exigências da criança, nem compensando a criança com presentes.
- Dê oportunidades aos seus filhos para expressarem os seus sentimentos. Reconheça-os, mostre que compreende e ajude-os a encontrar soluções. é natural que os filhos mais velhos se sintam confusos enquanto tentam entender as mudanças, tanto no corpo da mãe, como nas dinâmicas familiares, e que sintam alguns ciúmes dos irmãos. Estes sentimentos podem ser expressos de forma mais evidente ou mais subtil. Esteja atento e procure dar resposta a essas necessidades de segurança.
- Envolva os seus filhos mais velhos na resolução de problemas dando-lhes opções (ex. , "agora vou dar o leite ao guilherme, não posso brincar. Como podemos fazer? Queres ir brincar com os legos ou preferes ficar aqui a ler um livro? ").
- De forma gradual, encoraje o envolvimento do seu filho mais velho com o novo irmão (ex. "que roupa é que gostavas que a maria vestisse hoje? ), mas não force nem pressione se ele não estiver interessado. Pode convidá-lo a ajudar a decorar o quarto, escolher brinquedos, roupas, etc. , respeitando o seu interesse.
- Dê ao seu filho a segurança de que ninguém vai ocupar o seu lugar (ex. "nós amamos toda a nossa família, tu, o avô, a avó, os primos, e agora também a maria… Todos têm lugar no nosso coração. Tu tens um lugar especial no meu coração, és único para mim. ").
- Encoraje sentimentos de proximidade e orgulho nas aquisições do bebé, mas também dos restantes elementos da família, nomeadamente dos irmãos mais velhos. Não deixe que tudo gire em torno do novo bebé.
- Não pressione os seus filhos mais velhos a amarem o novo bebé. O mais provável é que esta relação de afeto se crie com o tempo e a convivência.
- Esteja preparado para a possibilidade de o seu filho mais velho ter algumas regressões, ou agir como um bebé de forma a conseguir mais atenção. Pode ser um sinal de stress ou uma tentativa de perceber o seu lugar na família. Estes comportamentos podem desaparecer mais depressa se não lhes der demasiada importância. Exigir que a criança aja “como um menino crescido” pode não ser ajustado ao que a criança consegue dar no momento.
- Ajude o seu filho mais velho a proteger os seus brinquedos favoritos quando o bebé tiver mais mobilidade. A criança pode ser incentivada a partilhar, mas tem direito a ter os seus próprios brinquedos e é natural que não queira que se estraguem.
- Leia livros sobre como os bebés crescem e sobre ter um novo irmão ou irmã. Dependendo da idade do seu filho, falem sobre as expectativas que têm em relação ao que será mais divertido e mais difícil quando o bebé nascer, e sobre atividades que podem fazer nesses momentos. Ainda durante a gravidez, pode ir envolvendo a criança, de acordo com os seus interesses e características, criando oportunidades para ver e estar com outros bebés, falando sobre o que podem e não podem fazer, como se comportam, etc.
Nota: caso tenha alguma preocupação deve consultar um especialista para avaliar a situação e recomendar a melhor forma de intervenção.
Traduzido e adaptado por joana nunes patrício de lerner (2017), reichlin e winkler (2003).
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