Confrontamo-nos, diariamente, com imensa informação. Notícias ao minuto. Mas o nosso entendimento do mundo - da nossa própria vida - parece ficar cada vez mais comprometido.
Trabalha-se mais do que a média da OCDE, mas a produtividade do nosso pais é menor.
As crianças passam infindáveis horas na escola, mas o governo propõe ajuda para que possam passar ainda mais tempo e aos fins de semana.
Surgem vozes a clamar para horários mais alargados de creches e jardins de infância. Será mesmo isto o que é preciso? Paramos para pensar e refletir sobre as necessidades do desenvolvimento infantil?
Os dados da OCDE são claros: em Portugal trabalha-se mais horas do que a média dos países da OCDE. Será que as exigências laborais não se podem coadunar com o bem-estar pessoal e familiar?
O professor Clayton Christensen no seu livro “How Will You Measure Your Life?” ajuda-nos a seguir um caminho de reflexão.
O nosso trabalho, as carreiras dão-nos uma evidência imediata de conquista: o vencimento ao fim do mês, o negócio fechado, a subida de categoria, etc. São retornos tangíveis e imediatos.
E os investimentos na família? não é preciso estar muito atento para percebermos que não há qualquer hipótese de retorno tangível durante muito tempo… Aliás, os custos até são enormes: as crianças choram, têm que ser alimentadas, vestidas, e depois portam-se mal uma e outra e outra vez… até à exaustão!
Mas, quando confrontamos alguém sobre o que é mais importante na sua vida, e porque é que trabalha tanto, a grande maioria irá responder: a família, os filhos… E então vem o paradoxo: se é a família e os filhos, porque perdemos tanto tempo com outras coisas? Porque não organizamos as nossas prioridades?
As crianças, o que querem mesmo é acordar com os pais, brincar com os pais, pôr a mesa com os pais, jantar com os pais, adormecer com os pais, ESTAR com os pais.
Não podemos sucumbir sem questionar as exigências, às vezes totalmente absurdas, que a sociedade nos impõe.
Fonte: https://data.oecd.org/emp/hours-worked.htm
*OECD (2018), Hours worked (indicator). doi: 10.1787/47be1c78-en (acesso em 23 janeiro 2018)