Há uma força misteriosa, celeste, a unir um pai a um filho, e o filho ao pai. Um elo que está para além da nossa compreensão, chamamos-lhe amor por ser a força mais profunda de sentido que se conhece, mas para o caso até parecerá demasiado genérico.
Desde que nasci, e só em adulto me apercebi, fixei na figura de meu pai o espanto, como o noto no modo como outros falam de seus pais. Um espanto que nos faz querer ser melhores, iguais aos nossos pais. E mesmo em todo o conflito que em dada altura da vida é forçoso que surja encontramos no seu fundo o desejo do filho em ver-se reconhecido como seu par.
Enquanto o filho não se poupa a esforços até se afirmar, os pais vão criando as suas próprias expectativas. Veem-se numa posição nova, sabem ser a referência, e querem estar à altura da responsabilidade. Contou-me um amigo que assim que foi pai inscreveu-se num ginásio. Ser pai faz-nos querer ser melhores pessoas. É certo que com o tempo, e aqui os hábitos diários atuam como um poderoso soporífero, a tendência poderá ser confundirmo-nos nas prioridades. A própria ambiguidade na educação, no impacto desconhecido de cada incentivo ou censura que impomos, constrangidos pelo que são as nossas referências, as nossas possibilidades, o cansaço e até a premissa furada de que os filhos estavam sob nosso controle, em todo o dilema moral esgotam-se muitos recursos anímicos conduzindo a todo o tipo de desvios. E contudo, tudo o que mais desejamos é o melhor para os nosso filhos.
E a verdade é que o melhor que poderemos dar é a nossa presença. É estarmos lá, fazer parte da sua história. Aí, como que por milagre, não só o pai fará instintivamente o esforço de ser referência, como o filho fará por seguir seus passos; o tal espantoso elo, fortificado, levará a melhor sobre qualquer adversidade e essa história, em todos os seus percalços, como um regresso a casa, terá tudo para correr bem!
*Coordenador da campanha “A infância não se repete”
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