Lembro-me com muito carinho do tempo que passei com todos os meus avós, mas os avós não são todos iguais. Alguns estão mais presentes, outros mais distantes; alguns são mais ativos na educação dos netos, outros preferem não se envolver; uns mais permissivos, outros mais autoritários; ainda temos os que são mais consistentes com a educação dos pais, e os que preferem fazer as coisas à sua maneira… São várias as dinâmicas que se estabelecem entre avós, pais e netos.
Embora se assistam a mudanças ao longo do tempo, em portugal existe ainda uma grande percentagem de avós a tomar conta dos netos. Os estudos sobre o impacto destes cuidados nos avós e nos netos nem sempre são consistentes. Alguns sugerem que os avós podem ser um fator protetor das crianças em diversas situações e que, inclusivamente, o cuidado aos netos tem impacto positivo na saúde física e psicológica dos avós; outros indicam que pode ser uma fonte de stress e discórdia. Dados recolhidos em entrevistas com avós indicam que estes encaram o tempo passado com os netos como um presente, uma alegria, sentindo-se mais relaxados, confiantes e pacientes com os netos do que foram com os filhos. Ao mesmo tempo, reconhecem que esta prestação de cuidados é um compromisso e reconhecem a importância da definição de limites e equilíbrios, para que não existam interferências com outras atividades do seu dia-a-dia. Existem desafios e conflitos mesmo nas melhores relações, porque, naturalmente, surgem desencontros de expectativas e perspetivas relacionadas tanto com a educação como com os papeis e responsabilidades dos avós. Alguns avós referem que discutir estas diferenças com os filhos não é fácil, pois sentem que a sua experiência como cuidadores é invisível para os filhos. Por outro lado, os pais precisam que os avós respeitem as suas decisões e o seu papel de pais. Muitas vezes, é aqui que surgem algumas dificuldades… Neste contexto, uma comunicação clara e saudável parece ser um dos fatores principais para o sucesso da relação pais-avós, reduzindo o stress e aumentando a coesão familiar.
A ligação entre avós e netos pode ser uma ligação especial, diferenciada e incrivelmente poderosa na vida de uma criança, sendo muito importante apoiar e alimentar esta relação! Permitir à criança vivenciar tradições com os avós – rotinas e rituais que se repetem ao longo do tempo e de gerações – ajuda a dar-lhes um sentido de identidade e conexão familiar; assim como é importante permitir que criem novas tradições, que sejam únicas e especiais dos avós e netos (ex. Partilhar uma refeição especial, uma história inventada de propósito para os netos, rotinas feitas de forma diferente e memorável, etc. ).
As crianças normalmente sentem-se confortáveis e confiantes com os avós, podendo estes representar um ninho de segurança emocional. Apoiar esta relação logo nos primeiros anos de vida da criança, pode representar o início de muitos anos de memórias partilhadas, dando às crianças raízes e simultaneamente asas.
Sugestões:
- os avós têm outras referências e, por isso, pode ser bom oferecer informação atual (algum livro, panfletos) sobre disciplina, nutrição, sono, brincadeira, etc.
- Não imponha a sua disciplina de forma absoluta na casa dos avós. Mesmo que em casa a criança tenha que ir para a cama cedo, não coma chocolate, etc. , permita certos comportamentos com os avós. Deixe que sejam parte da dinâmica dos avós, que sejam lembrados como coisas especiais do tempo que passam juntos.
- Chame a atenção dos seus filhos para a possibilidade de as regras serem diferentes na casa dos avós, e ajude os avós a compreenderem porque estabeleceu certas regras.
- Evite fazer comentários depreciativos dos avós em frente às crianças e tente estimular a relação entre avós e netos mesmo que a sua relação com os avós não seja a melhor.
- Avós e pais são de gerações diferentes, mas procure ouvir os conselhos, sentimentos e maneiras de pensar dos avós sem discutir. Reconheça quando é mais sensato falar ou não, por vezes vão ter de concordar em discordar.
- Se os avós enchem os netos de presentes procure gerir a situação, por exemplo restringindo o número de presentes que podem abrir, explicando que o melhor presente é a presença deles, sugerindo atividades que possam fazer em conjunto em vez de dar bens materiais, etc.
- Encoraje os avós a partilhar perspetivas e resolver problemas como uma equipa. Esta colaboração pode ser um grande desafio. Valorize a experiência dos avós, os seus pontos fortes, mas deixe claro que como pais e decisores estão a estabelecer a vossa identidade e autoridade. A última palavra nas decisões é sua, e isto tem que ser claro para todos. Sentindo esta confiança também será mais fácil ouvir os avós sem discutir.
- Use a tecnologia para chegar mais perto de avós distantes, para que as crianças comecem a reconhecer a voz e a cara dos avós.
- Crie oportunidades e um ambiente favorável à interação entre avós e netos. Dê-lhes tempo para criarem a sua própria relação.
- Se necessário ajude-os a encontrar atividades ou interesses que possam partilhar.
- Estimule o gosto dos seus filhos por ouvir histórias contadas pelos avós. Sugira aos avós que partilhem histórias e músicas de família, que façam atividades juntos e que peçam à criança para ajudar em algumas tarefas, aproveitando o tempo e disponibilidade dos avós, a ausência de presa;
- tenha iniciativa de marcar encontros com os avós consoante a disponibilidade da família, de arranjar tempo para visitar os avós e de manter uma comunicação regular, transmitindo valores de coesão familiar, de cuidar dos outros, de amizade e amor.
- Não é possível estar em dois sítios ao mesmo tempo, nem agradar a todos, mas deixe os avós saberem que tenta conciliar as coisas da melhor forma. Deste modo está também a modelar competências de resolução de problemas, planeamento e gestão de conflitos.
- Imagine-se a si mesmo como avó/avô, e pense como gostaria que fosse a relação com os seus netos e filhos.
Traduzido e adaptado por joana nunes patrício de glaser, price, montserrat, gessa, & tinker, 2013; kinsner, parlakian, & maclaughlin, 2017; parlakian, 2017; parlakian & kinsner, 2017; parlakian & lerner, 2012; reichlin & winkler, 2010.
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