Outro dia recordávamos os natais passados, os presentes desejados durante meses, que aguardávamos ansiosamente na esperança de os receber pelo Natal, os presentes que valorizávamos e estimávamos tanto porque não abundavam e, portanto, eram mesmo especiais, brincávamos com eles repetidamente, diariamente, sem nos cansarmos. Há até quem se lembre do próprio papel de embrulho ser retirado com todo o cuidado porque ia ser usado para embrulhar presentes no Natal seguinte…
Hoje parece ser diferente… o poder de compra aumentou, talvez os valores tenham mudado, são gerações diferentes, mas, de repente, parece que qualquer ida a um supermercado pode justificar um presente, não é preciso esperar muito tempo para se ter o que se quer, e, às vezes, são tantos os presentes que ficam esquecidos e desvalorizados numa prateleira qualquer. Damos por nós a assistir a crianças (e também adultos) que parecem estar sempre à espera de mais, sem valorizarem o que já têm.
Questionámos: Estaremos a exagerar nos brinquedos que oferecemos? Será importante contornar esta tendência mais consumista e materialista?
Pesquisei e alguns estudos parecem indicar que sim, que é importante reduzir o número de brinquedos, uma vez que a abundância de brinquedos pode reduzir a qualidade da brincadeira, bem como ser distratora, estimular em demasia e sobrecarregar as crianças.
Por outro lado, ter menos brinquedos disponíveis pode ajudar as crianças a concentrarem-se mais, a brincarem durante mais tempo, de forma mais criativa, imaginativa e variada, a terem mais brincadeiras sociais e a brincarem mais no exterior.
Para além disso é importante que existam brinquedos simples, não estruturados, que as crianças possam usar de acordo com a sua imaginação, de forma criativa. De facto, vários pais comentam como é curioso que as próprias crianças por vezes fazem essa seleção, têm tantos brinquedos, mas o que gostam mesmo é de brincar na cozinha com as caixas de cereais, tupperwares e molas da roupa…
De acordo com Becker uma criança não vai aprender a apreciar completamente o brinquedo que tem à sua frente se tiver inúmeras opções disponíveis na estante atrás de si, e quando as crianças têm demasiados brinquedos cuidam menos deles, não os valorizam tanto porque são rapidamente substituídos. Assim, ter menos brinquedos também pode encorajar a gratidão e valorização (a cuidar e estimar o que se tem) e pode ajudar as crianças a serem consumidores intencionais e conscientes (a fazer escolhas e não comprar só por comprar).
Sugestões:
- Ensine, ajude e incentive o seu filho a arrumar os brinquedos, a cuidar e estimar o que tem. Para facilitar a arrumação pode ter os brinquedos organizados por caixas e usar jogos, humor e canções que associem a arrumação a uma tarefa positiva.
- Em conjunto procurem arranjar os brinquedos e livros estragados, incentivando este cuidado.
- Quando têm demasiados brinquedos selecionem alguns para dar, ou tenham alguns guardados para, de vez em quando, trocar por aqueles que estão disponíveis.
- Resista à vontade de comprar tudo o que o seu filho quer. Defina o número de presentes que pode receber e abrir de cada vez.
- Para os avós colaborarem dê-lhes ideias para presentes, ajude-os a compreender porque estabeleceu estas regras, e dê sugestões de presentes diferentes, não materiais, como por exemplo experiências com os avós.
- Ensine a agradecer e incentive a gratidão.
- Explique que é preciso trabalhar para ganhar dinheiro e para comprar coisas, e que o dinheiro não dá para tudo, que os adultos também não têm tudo o que querem.
- Ensine o seu filho a fazer listas de desejos e de prioridades, a pensar no que quer mais e menos.
- Dê uma pequena semanada ao seu filho para que comece a ter noções de gestão de dinheiro e de poupança. Deixe que o seu filho sinta a satisfação de conseguir algo com a sua própria poupança.
- Encoraje alternativas, como por exemplo oferecer presentes que se podem fazer em casa, que não têm de comprar.
- Nesta época em específico conversem sobre o significado do Natal, sobre como o melhor presente é estarem juntos e terem-se uns aos outros.
- E não se esqueça, seja um modelo pois as crianças aprendem muito com o exemplo.
Retirado e adaptado de:
Becker, J. (2014). ClutterFree with Kids.
Dauch, C., Imwalle, M., Ocasio, B., & Metz, A. E. (2018). The influence of the number of toys in the environment on toddlers’ play. Infant Behavior and Development, 50, 78-87.
Reichlin, G. & Winkler, C. (2010). O guia de bolso dos pais. Lisboa: Editorial Bizâncio
Russell, M. (2018). 6 Reasons Why Fewer Toys are Better for Your Kids 2018. Retirado de https://simplelionheartlife.com/fewer-toys-are-better/ https://simplelionheartlife.com/fewer-toys-are-better/
#educação #Tradição #família #parentalidadepositiva #valores #desenvolvimento #brincar #natal #infância