Este mês celebrou-se o dia mundial da alimentação. A alimentação é um tema que envolve muitas questões. Em particular, na infância, os pais questionam-se sobre que alimentos introduzir, quando, como, como lidar com problemas de alimentação, quando e como promover uma alimentação autónoma, que tipo de hábitos de alimentares criar, etc.
De facto, a alimentação pode ser um desafio no desenvolvimento infantil. Inicialmente, esta necessidade básica da criança é satisfeita pelos seus cuidadores, e, com o tempo, a criança aprende a regular-se e a satisfazer esta necessidade de forma mais autónoma. Para algumas crianças e famílias este processo é fácil e prazeroso, para outras é um processo difícil e nada satisfatório, que parece uma batalha constante.
As dificuldades alimentares são comuns e normalmente transitórias, associadas a fases de mudança e a períodos críticos do desenvolvimento. No entanto, também existem perturbações alimentares, que devem ser sujeitas a avaliação e intervenção por especialistas. Assim, é importante estar atento e intervir o mais cedo possível para prevenir e/ou impedir o agravamento destas dificuldades.
Os bons hábitos alimentares começam desde cedo. As evidências científicas em relação ao processo de diversificação alimentar são limitadas, contudo, alguns estudos sugerem que o sucesso da diversificação alimentar passa, entre outros fatores, pela diversificação alimentar da mãe no período da gravidez e da amamentação e pela variedade precoce dos alimentos oferecidos à criança. Sabe-se também que por volta dos 9 meses as preferências de sabores de uma criança já estão bastante definidas. De acordo com a ata pediátrica portuguesa, relativa à alimentação e nutrição do lactente, "a janela para a habituação aos sabores é estreita, começando a fechar-se pelos 2 anos e encerrando aos 3 anos, ou seja, uma criança com um portfolio alimentar reduzido pelos 3 anos, vai manter essa monotonia alimentar até à adolescência, consumindo geralmente uma dieta rica em calorias, mas pobre em nutrientes. " assim, é importante introduzir uma variedade de sabores, texturas e cores na alimentação desde que se iniciam os alimentos sólidos.
Em suma, a alimentação pode ser um processo mais ou menos difícil, que leva tempo e exige prática, sobretudo nos primeiros anos de vida, em que o bebé passa da sucção de apenas um alimento, para a mastigação de uma variedade imensa de alimentos, passa de ser alimentado por outros a comer de forma autónoma, passa de comer sozinho no colo a comer de forma coletiva e social à mesa com família e pares, etc. é um processo no qual a paciência e o afeto são essenciais.
Sugestões:
- Não desista à primeira, pode levar 10 a 15 vezes ao longo de vários meses para uma criança se habituar a um novo sabor. Em média são necessárias 11 tentativas para ter sucesso, sendo assim importante a persistência na oferta alimentar.
- Basta dar uma ou duas colheres do novo sabor para iniciar a habituação e, gradualmente, ir aumentando a quantidade.
- é importante ler os sinais da criança - perceber quando ainda tem fome, ou quando já está cheia, respeitar a quantidade e ritmo da criança. Aproveite para introduzir desde cedo estas noções e conceitos na hora da refeição (ex. “tens fome”, “já sentes a barriga cheia”, “já não tens fome”).
- é importante aprendermos a lidar com a nossa própria ansiedade em relação à alimentação, procurando não a transmitir à criança.
- Oferecer e expor uma grande variedade de alimentos à criança e permitir o contacto com os mesmos.
- Antes de aprenderem a usar os talheres, esteja preparado para a fase em que as crianças tocam na comida, comem com as mãos e se sujam.
- Se necessário, servir alimentos de forma criativa e apelativa.
- Lembre-se que a criança não tem a mesma capacidade do adulto para se manter sentada à mesa durante muito tempo, é natural que comece a ficar mais irrequieta ao fim de algum tempo.
- Estabeleça poucas regras básicas, mas consistentes para a hora da refeição.
- Ao longo do tempo, vá introduzindo conceitos da roda dos alimentos e ajudando os seus filhos a compreender a importância de uma alimentação equilibrada e saudável.
- Dê à criança algum sentido de controlo envolvendo-a no planeamento de algumas refeições ou do momento da refeição (ex. Aquecer a sopa, pôr a mesa, tirar os alimentos do frigorifico ou da dispensa, etc. ).
Nota: caso tenha alguma preocupação deve consultar um especialista para avaliar a situação e recomendar a melhor forma de intervenção.
Traduzido e adaptado por joana nunes patrício de: american academy of pediatrics (2017); baptista (2016); reichlin, g. , & winkler, c. (2010); sociedade portuguesa de pediatria (2012)
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