Tornar-se pai implica adotar um novo papel, que não existia antes e, por isso, exige um conjunto de respostas que habitualmente não eram utilizadas, sendo também um tempo de aprendizagem e adaptação. O conceito de parentalidade é variado e tem vindo a alterar-se em termos históricos e sociais: as expectativas de hoje em relação ao papel de pai são diferentes das expectativas que se tinham há 50 anos atrás. Além disso, em termos individuais, este conceito depende do que cada pessoa considera ser o papel de pai. Importa, por isso, perguntar-se: “o que é ser pai?”, “que tipo de pai quero ser?”, “que tipo de memórias quero que os meus filhos tenham de mim?”, tal como questionar-se sobre as implicações que pode ter na vida dos seus filhos.
Alguns estudos desenvolvidos ao longo das últimas décadas têm vindo a demonstrar a importância do papel dos pais no desenvolvimento das crianças: os pais importam e muito! A relação pai-filhos tem impacto no desenvolvimento saudável destes últimos em todos os domínios: linguagem, pensamento, físico e social-emocional.
Este impacto começa desde cedo. Na verdade, alguns estudos mostram que, quando um pai está envolvido logo durante a gravidez, é mais provável que esteja envolvido posteriormente na educação dos seus filhos. Outros estudos demonstram também que as crianças que têm pais sensíveis, que percebem e respondem às suas necessidades e que interagem de forma afetuosa e positiva, tendem a ter uma vinculação mais segura com estes. A sensibilidade do pai nos momentos de brincadeira parece ser central no estabelecimento da relação de vinculação. Por sua vez, ter uma vinculação segura traz benefícios não só imediatos como a longo prazo, estando associada a maior sucesso académico e competências de socialização nas crianças. Tendo os pais como base segura, a criança sente confiança para explorar o ambiente que a rodeia, na medida em que sente que estes estarão acessíveis e serão sensíveis às suas necessidades caso venha a precisar deles.
Quando os pais estão adequadamente envolvidos nos cuidados diários (ex. alimentação, banho, brincadeira…) dos filhos, estão também a transmitir amor, segurança e confiança, o que também contribui para que mais tarde as crianças tenham a confiança e segurança necessárias para estabelecer boas relações sociais com os colegas. Os momentos de brincadeira entre pais e filhos contribuem ainda para o desenvolvimento cognitivo, da comunicação e da linguagem, o que por sua vez também está relacionado com um maior sucesso académico.
Este impacto no desenvolvimento cognitivo parece ser explicado sobretudo pelo facto da criança ter duas pessoas ativamente envolvidas, com estilos comportamentais diferentes, estando assim exposta a uma maior quantidade e diversidade de estimulação. Não basta estar presente - é importante querer estar presente e fazer deste tempo um tempo de qualidade, tanto para os pais como para os filhos. Assim, a quantidade de tempo que passam juntos tem menos importância do que aquilo que fazem durante esse tempo e da motivação que têm para estar envolvidos.
Mais do que ser o pai ou a mãe, é a qualidade parental que importa: ser sensível aos sinais e necessidades das crianças, responder aos mesmos de forma adequada, estar disponível quando a criança precisa, estimular o desenvolvimento, dar afeto, estabilidade, segurança, cuidados básicos e orientação e limites.
Sugestão:
- Estar presente e disponível
- Envolver-se nos cuidados diários e participar em tudo o que diz respeito à educação da criança
- Brincar, ler, conversar, passear… estimulando o desenvolvimento da criança
- Estar atento aos sinais e necessidades das crianças para responder às mesmas
- Transmitir afeto, estabilidade, e segurança, bem como estabelecer limites e orientar a criança
Traduzido e adaptado por Joana Nunes Patrício de Claire Lerner, 2016; Lamb, 2004; Martins, Abreu, & Figueiredo, 2014; Monteiro, Veríssimo, Vaughn, Santos, & Fernandes, 2008.
#desenvolvimento #parentalidadepositiva #infância