No início de janeiro (cientistas, micróbios e ar livre. ) apresentámos as primeiras duas razões para apostarmos numa vida mais na rua, que nos provam que aproveitar a natureza traz grandes benefícios: 1ª) aprender e 2ª) ganhar imunidades! Hoje, apontamos as duas outras razões que nos levaram a escrever estes artigos.
Assim, e em terceiro lugar (mas não por ordem de importância! ) impõe-se dar atenção à necessidade de proporcionar desafios às crianças. Bem, desafios é talvez a forma mais ligeira de dizer “riscos”. A verdade é que lidamos tanto melhor com o risco na medida em que passámos por ele. E a exploração de espaços desafiantes permite à criança o desenvolvimento de um sem fim de competências.
Ao adulto cabe proporcionar esses espaços e viver para alguns sustos. E que sustos que nos pregam! Cair do ramo de uma árvore, tropeçar num socalco, levar à boca uma novidade apanhada do chão… São pequenos sucessos e pequenos fracassos, sem grandes consequências. Mas assumimos que o risco é benéfico e que as crianças ao se exporem a estes riscos estão a descobrir o mundo. O desenvolvimento das suas capacidades em lidar com o risco vai permitir que mais tarde façam uma boa avaliação de quais os riscos que vale a pena correr. [i] [ii]
por fim, e de forma transversal, encontramos nas interações das crianças com e na natureza uma oportunidade de desenvolvimento de atitudes e de valores. [iii] [iv] não nos podemos cingir às características próprias da idade (como o tão falado egocentrismo nos pequeninos! ), e baixar os braços. à medida que vamos estruturando as nossas vidas, vamos reconhecendo rotinas. Torna-se óbvio que não precisamos de inventar atividades para trabalhar certas competências, se as podemos desenvolver com as pequenas exigências do dia a dia. Assim, seria bom fazermos certos percursos a pé, apresentar as crianças aos vizinhos, aos comerciantes das lojas dos bairros, deixar as crianças brincar num parque menos estruturado, fazer mais piqueniques… a maior parte dos lobos maus está nas nossas cabeças: não existem assim tantos!
Andar na rua e conhecer os vizinhos dá-nos confiança.
Não fazer nada. Só isso, não fazer nada.
O respeito pela natureza; o respeito pelas pessoas; a partilha; a entreajuda; a construção de amizades e expressão de união; a cooperação e trabalho de equipa; a demostração de empatia; e a expressão de gratidão são atitudes muito recorrentes na exploração da natureza. Nestes contextos, o adulto não consegue responder às muitas solicitações das crianças e, por isso, surgem oportunidades para elas próprias aprenderem a lidar com algum conflito que surja com outra criança, a desembaraçarem-se numa subida de árvore…
Cooperação | Entreajuda | Trabalho de equipa
Coordenação | Destreza
Num futuro em constante mudança, que é mais de incertezas do que de certezas, dar à criança pilares assentes na sua origem, a natureza, é com certeza, uma boa aposta.
[i] bilton, h. , bento, g. , dias, g. (2017). Brincar ao ar livre. Porto editora.
[ii] international school grounds alliance - isga. O risco no brincar e no aprendizado. Disponível em: < http: //www. Internationalschoolgrounds. Org/risk/>. Acesso em: 12 set. 2017.
[iii] portugal, g. (2010). No âmago da educação em creche: o primado das relações e a importância dos espaços. Conselho nacional de educação, cne (pp. 47-59).
[iv] acar, i. ; torquati, j. The power of nature: developing pro-social behavior towards nature and peers through nature-based activities. Young children, v. 70, n.5, p. 62-71, 2015. Disponível em: < http: //digitalcommons. Unl. Edu/cgi/viewcontent. Cgi? Article=1121&context=famconfacpub >. Acesso em: 9 outubro. 2018.
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