Como ajudar a criança a lidar com as suas emoções?

Como ajudar a criança a lidar com as suas emoções?

Não sei se também vos acontece, mas são vários os assuntos importantes que acabam por ficar abafados na correria do dia-a-dia, em que pouco tempo existe para simplesmente pensar. Assuntos que ficam sempre para depois, “quando tivermos tempo”. Contudo, existem momentos em que é importante fazer o esforço de parar e refletir… Será que estamos verdadeiramente a ouvir e a compreender as crianças? Será que as estamos a ajudar a lidar com as suas emoções? Será que isso é sequer importante? Sim, as emoções são um desses assuntos importantes, sobre os quais vale a pena refletir. O desenvolvimento emocional parece ser uma variável fundamental para o sucesso das crianças a longo prazo, seja na escola, no trabalho, ou nas relações no geral. Quando ajudamos as crianças a aceitar e compreender as suas emoções, elas estarão melhor preparadas para geri-las. Um passo crítico para ajudar o seu filho a lidar com as emoções será não ter receio das mesmas, aceitá-las simplesmente, sem julgar se serão certas ou erradas, boas ou más… as emoções, agradáveis ou não, têm uma função, e fazem parte das experiências da criança. Assim, logo desde o primeiro dia, ao respondermos com sensibilidade às emoções, deixamos que as crianças saibam que as suas emoções são reconhecidas e importantes. Por outro lado, se estas forem minimizadas, desvalorizadas ou ignoradas ao longo do tempo, poderão acabar por ser expressas de formas mais prejudiciais para a criança que não saberá como lidar com o que sente, seja através de palavras e ações mais agressivas, ou através da interiorização das mesmas, podendo levar a ansiedade e depressão… As crianças diferem na forma como expressam as suas emoções, na intensidade com que as vivem e na sua capacidade de regular as suas respostas emocionais. Identificar o que sentimos é algo que vem com o tempo… regular e controlar emoções demora mais ainda… mas podemos ajudar as crianças ao logo do tempo. Um passo essencial será escutar verdadeiramente! Como pais podemos começar por interpretar e dar voz ao que o bebé expressa, e, depois, à medida que a criança vai adquirindo a linguagem podemos escutar, aceitar e respeitar o que a criança sente e nos diz, mesmo que não faça muito sentido para nós… (ex. “Tenho fome.” – “Não tens nada ainda agora comeste.”; “Estou cansado.” – “Não pode ser, acabaste de fazer uma sesta.”). Ao invalidarmos o que as crianças estão a expressar podemos estar a ser pouco compreensivos e a “dizer-lhes” para não confiarem naquilo que sentem. Por outro lado, se tivermos o cuidado de fazer o oposto, estaremos não só a dar-lhes vocabulário emocional, como a ajudá-los a identificar e a expressar emoções e a confiarem naquilo que sentem. Não é tão gratificante quando nos escutam verdadeiramente? Quando se põem no nosso lugar e validam o que sentimos? Mesmo que nos ajudem depois a ver as situações de outras perspetivas, é tão bom quando conseguem ver da nossa… Tal como nós, as crianças sentem esse mesmo conforto quando nos colocamos no lugar delas. Assim, para estimular o desenvolvimento emocional da criança, experimente estas estratégias e deixe-se surpreender:

  1. Observar e escutar com atenção. É mais fácil falar sobre os nossos problemas e emoções a alguém que nos ouve realmente, que está realmente atento a nós e ao que estamos a dizer (ex. em vez de estar a olhar para a televisão ao mesmo tempo).
  2. Aceitar/Reconhecer a emoção. Por vezes palavras simples como um “oh…”, “humm…”, “sim…”, “estou a ver.…”, juntamente com uma atitude carinhosa e aceitante, pode ajudar a criança a explorar os seus sentimentos e pensamentos e até a chegar às suas próprias soluções e conclusões sozinha (ex. em vez de interromper, questionar, culpar ou advertir, dizendo coisas como “mas porque?”, “eu bem te disse”, “se não tivesses …”).
  3. Nomear o sentimento. Nomear e validar um sentimento mesmo que não seja tão agradável (ex. “isso parece frustrante!”, “estás mesmo triste”), é reconfortante para a criança, que se sentirá muito mais compreendida (ex. em vez de negar, desvalorizar ou evitar, “esquece isso”, “isso não é nada”).
  4. Partilhar a fantasia. Juntar-se à fantasia da criança, desejando o que ela quer (ex. “gostava de fazer uma magia e conseguir fazer aparecer o casaco que perdeste!”), pode reduzir os protestos, ajudar a criança a sentir-se mais compreendida e tornar mais fácil lidar com a realidade (ex. em vez de responder com uma explicação lógica “perdeste o casaco, agora não há nada a fazer, tens de vestir outro”).
  5. Ajudar a lidar com o sentimento vs comportamento. Todos os sentimentos são válidos, mas nem todos os comportamentos são aceitáveis, e isto deve ser claro e consistente (ex. “estou a ver que estás mesmo zangado com o teu irmão. Diz-lhe o que queres, em vez de bater.”)

Traduzido e adaptado de Faber, A., & Mazlish, E. (2012). How to talk so kids will listen and lusten so kids will talk. London: Piccadilly Press. Lerner, C. (2015). First Feelings: The Foundation of Healthy Development, Starting From Birth. Retirado de https://www.zerotothree.org/resources/294-first-feelings-the-foundation-of-healthy-development-starting-from-birth Webster-Stratton, C. Helping children learn to regulate their emotions.

Joana Nunes Patrício

Joana Nunes Patrício

  • Licenciada em Psicologia pelo ISCTE-IUL
  • Mestre em Psicologia Social e das Organizações
  • Participação em projetos de investigação e intervenção social e comunitária na área da proteção a crianças e jovens em risco, na área da parentalidade, e na área da educação.
  • Membro da ISPCAN - International Society for the Prevention of Child Abuse and Neglect

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