Como responder ao comportamento das crianças: ser reativo ou responsivo?

Como responder ao comportamento das crianças: ser reativo ou responsivo?

Muitas vezes estamos em piloto automático, o comportamento das crianças cria uma reação em nós, faz-nos sentir confusos, frustrados, exaustos… e, limitamo-nos a reagir. O oposto desta resposta mais reativa seria uma resposta responsiva, ou seja, seria agir com intencionalidade, com uma estratégia clara e consistente perante o comportamento da criança. Ok, mas isto é possível e realista? Se calhar nem sempre, mas é possível fazer um esforço nesse sentido, visto que ao agir da segunda forma será mais capaz de gerir o comportamento da criança e de lhe ensinar competências. Uma estratégia para aumentar a sua capacidade de responder de forma mais responsiva é fazer 3 questões:

  1. Porquê? Porque é que a criança está a agir assim? É um comportamento apropriado para a idade? Aborde a questão com curiosidade, refletindo sobre o que estará por trás do comportamento. Considerar o temperamento do seu filho e em que circunstâncias se dá o comportamento (teve um dia mais agitado, dormiu mal na noite anterior…)
  2. O quê? O que quero ensinar neste momento? Qual é o meu objetivo? Que aprendizagem e competência quero desenvolver no meu filho (ex. autocontrolo, partilhar, responsabilidade pelas ações, formas apropriadas de gerir emoções, etc.)?
  3. Como? Como posso ensinar da melhor maneira? Considere a idade, fase de desenvolvimento e o contexto da situação. Tenha também em consideração o seu estado e o da criança (ela estará capaz de aprender agora, e eu estarei capaz de a ensinar?); Use uma forma colaborativa de resolver problemas (ajude-o a pensar em soluções e a construir as competências necessárias para resolver os seus problemas). De que forma o seu filho costuma aprender melhor (funciona melhor com ações, com conversas, com pistas visuais…)? Quanto melhor o perceber melhor será a resposta que lhe pode dar.

Para pensar nestas questões e agir de forma mais responsiva é necessário que o próprio adulto consiga ter algum controlo sobre si mesmo. Assim sendo, pense de que forma pode ficar mais calmo e veja o que funciona consigo. Por exemplo…

  • Pensar em 3 coisas que adora no seu filho antes de abordar a situação
  • Contar até 10 antes de responder
  • Respirar fundo pelo menos 2 vezes
  • Relaxar o corpo antes de responder

É também importante distinguir o que a criança não quer fazer do que não consegue fazer. Muitas vezes interpretamos o comportamento como desobediência, provocação e “ser difícil”, mas, por vezes, a criança não consegue simplesmente controlar-se. A capacidade de autocontrolo desenvolve-se com o tempo, e será maior quanto mais descansada estiver a criança, quanto mais conectada estiver aos pais e aos outros no geral, quanto mais encorajamento tiver, e quanto mais experiencias de sucesso tiver a acalmar-se… Por outro lado, a capacidade de controlo será menor se a criança estiver mais stressada e ansiosa, mais cansada, com mais sono, mais insegura na relação com os pais e com os outros no geral, se tiver falta de suporte, se estiver sobrecarregada…

Assim, pense nos comportamentos do seu filho e procure argumentos de forma a distinguir o não conseguir do não querer. Ex. A criança está constantemente a sair da cama e a chamar por mim.

Não quer porque…

  1. Dá para ver que está exausta, portanto está a fazer de propósito.
  2. Ela ouve quando eu grito, portanto vai continuar a não ser que seja firme com ela.
  3. Não interessa o que lhe der, ela continua sempre a pedir mais qualquer coisa, só pode estar a inventar.

Não consegue porque…

  1. O pai chegou um pouco antes da hora de dormir e deixou-a excitada.
  2. Precisa de ajuda para processar algo que aconteceu durante o dia (medos, stress, tristeza…).
  3. Apressei a rotina da noite porque estava cansada, ela sentiu a desconexão e está a tentar conectar-se.
  4. Não quer que o dia acabe.

Não consegue ou não quer?

Embora esteja exausta o facto de estar a ver televisão até tarde e de o pai ter chegado e a ter ativado, pode ser uma razão para não estar a conseguir dormir. Depois eu apressei a rotina do sono, o que também não ajudou. Fiquei frustrada, gritei e ela não ouviu. Mas talvez seja porque ficou com medo de mim, ou desistiu da minha ajuda para ultrapassar a dificuldade em adormecer. Quando grito com ela para ir dormir, fica ainda mais difícil para ela acalmar e adormecer, ainda a ativo mais. Decisão: Talvez o que ela queira na verdade sejam alguns minutos de conexão comigo antes de ir dormir, e por isso inventa desculpas para eu estar sempre a voltar lá. Talvez até nem saiba o que precisa. É uma criança. Talvez estar mais um pouco comigo a faça sentir-se mais segura e amada e consiga dormir depois.

Em suma, quanto melhor percebermos as razões por trás do comportamento da criança menos provável será reagirmos de forma automática, com zanga e frustração, e mais capazes seremos de responder de forma intencional, promovendo mudanças positivas mais duradouras.

Traduzido e adaptado de Siegel & Bryson(2014). No-drama discipline: The whole brain way to calm the chaos and nurture your child´s developing mind.

Joana Nunes Patrício

Joana Nunes Patrício

  • Licenciada em Psicologia pelo ISCTE-IUL
  • Mestre em Psicologia Social e das Organizações
  • Participação em projetos de investigação e intervenção social e comunitária na área da proteção a crianças e jovens em risco, na área da parentalidade, e na área da educação.
  • Membro da ISPCAN - International Society for the Prevention of Child Abuse and Neglect

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