Compreender e gerir as emoções leva o seu tempo. Nem sempre é simples perceber do que falamos quando discutimos as emoções, mas, na sua essência, trata-se de respostas a estímulos e situações, que se manifestam a diferentes níveis.
Num primeiro momento, as emoções manifestam-se através do corpo, regulado pelo sistema nervoso (ex. batimento cardíaco, respiração, circulação sanguínea, etc.). Depois, a nível comportamental, as emoções são expressas através de ações (ex. expressões faciais, chorar, bater, fugir/evitar uma situação). E, por fim, a nível cognitivo, a expressão das emoções envolve o processamento da informação, reconhecer e nomear o que se sente (ex. expressar verbalmente “estou furioso!”).
A capacidade de regular as emoções (ex. não bater ou explodir quando se está furioso) é algo que se vai construindo e aprendendo com o tempo e o crescimento. Inicialmente, esta regulação é feita pelo exterior e são os pais e cuidadores que ajudam as crianças a regular o seu estado emocional, respondendo às suas necessidades. A aquisição da linguagem é um dos primeiros passos para a criança ser capaz de se regular, na medida em que começa a conseguir expressar por palavras aquilo que sente e de que precisa. Ao longo da idade escolar, a regulação emocional começa a ser cada vez mais interna e complexa, passando a envolver uma maior reflexão.
Algumas emoções podem ser mais difíceis de gerir que outras e as crianças diferem na forma como expressam, gerem e compreendem as suas emoções e as dos outros.
A zanga e a raiva são emoções de resposta a algo que nos desagrada, que sentimos como ameaça e/ou que nos magoa. São emoções fortes, que ativam muito o corpo e trazem alguma dificuldade em pensar de forma calma e clara, podendo envolver algum descontrolo, sobretudo quando o sistema de regulação emocional ainda está pouco desenvolvido. São emoções muito naturais, embora mais frequentes ou intensas numas crianças que noutras. A maturação do sistema neurológico da criança, o temperamento e os modelos e suporte parentais também ajudam a explicar a capacidade da criança para gerir e regular as emoções.
De forma geral, os pais podem ajudar os filhos a aprender a regular as suas emoções dando-lhes estabilidade e consistência, aceitando as suas emoções, falando de sentimentos e encorajando os filhos a fazer o mesmo, modelando a regulação emocional, ensinando os filhos a ter um auto-discurso positivo, ajudando a encontrar alternativas perante situações que levam a algum descontrolo, ensinando técnicas de relaxamento e elogiando os seus esforços de regulação emocional.
Sugestões:
- Evite gritar, envergonhar, culpar, rotular, ameaçar ou ferir a criança de qualquer maneira. Evite também reforçar o comportamento inadequado, cedendo às explosões.
- Aceite a criança como um ser humano valioso.
- Acentue os seus pontos fortes.
- Reconheça/Reforce os comportamentos apropriados.
- Forneça um ambiente seguro e respeitoso, com limites claros.
- Forneça rotinas previsíveis e oportunidades para que a criança faça escolhas.
- Modele a bondade, justiça, firmeza e consistência.
- Observe cuidadosamente a criança para perceber o que leva ao comportamento e assim poder antecipar e reduzir explosões de fúria.
- Entenda que a raiva é muitas vezes uma reação a sentir-se incompreendido, não amado, magoado ou com medo.
- Ajude a criança a aprender e a usar vocabulário emocional.
- Ouça e espelhe os sentimentos expressados pela criança.
- Ensine a criança que a raiva é uma emoção natural, assim como outras.
- Ajude a criança a entender que é bom sentir-se forte, mas que não é bom ferir outros.
- Forneça um lugar seguro para a criança se acalmar.
- Ensine à criança maneiras de lidar com impulsos de irritação: parar e pensar, resolver problemas, sentar-se sozinho, respirar profundamente e relaxar, por exemplo amassando plasticina, contando, desenhando, fazendo exercício, descansando ou lendo.
- Ajude a criança a satisfazer as suas necessidades psicológicas: sentir-se amada, aceite, segura, reconhecida e parte de um grupo.
Nota: Caso tenha alguma preocupação deve consultar um especialista para avaliar a situação e recomendar a melhor forma de intervenção.
- Traduzido e adaptado por Joana Nunes Patrício de Leah Davies, Caroline Webster-Stratton e Paulo Moreira