Os dois primeiros passos do guia do Center on the Developing Child de Harvard, publicados nos posts anteriores, permitiram compreender como as primeiras experiências e relações são importantes para o desenvolvimento ao longo da vida. Agora, no terceiro passo deste guia, apontam um conjunto de três princípios e a ciência da resiliência, no sentido de apoiar as famílias e o desenvolvimento das crianças e de maximizar a eficácia de políticas e serviços nesta área.
**Que princípios? **
- Apoiar relacionamentos responsivos. Para as crianças, as relações responsivas com os adultos têm um duplo benefício, promovem o desenvolvimento saudável do cérebro e proporcionam apoio e proteção para lidar com o stress. Para os adultos, as relações saudáveis também estimulam o bem-estar e proporcionam suporte prático e emocional, fortalecendo a capacidade para lidar com situações stressantes. Ao apoiar relações responsivas, entre crianças e adultos e nos adultos entre si, estamos a promover o desenvolvimento saudável das crianças, a modelar relações responsivas e a reforçar as competências dos adultos.
- Fortalecer competências centrais de vida. Todos nós precisamos de um conjunto de competências para gerir a vida, o trabalho e os relacionamentos com sucesso. Estas competências base são as chamadas funções executivas, que suportam a nossa capacidade de concentração, planeamento e alcance de metas, de adaptação a situações de mudança e de controlo de impulsos. Estas competências são desenvolvidas ao longo do tempo através de treino e prática. Os adultos podem estimular o desenvolvimento das funções executivas das crianças. Políticas que promovam estas competências em crianças e adultos são essenciais para o sucesso académico, profissional, e também parental.
- Reduzir fontes de stress. Nem todo stress é mau, mas o stress intenso e contínuo pode causar problemas duradouros para as crianças e adultos, na medida em que a ativação excessiva dos sistemas fisiológicos de resposta ao stress afeta o cérebro e outros sistemas biológicos. Reduzir fontes de stress na família protegerá as crianças direta e indiretamente, pelo que uma abordagem multigeracional para reduzir as fontes externas de stress nas famílias tem duplos benefícios: os adultos serão mais capazes de proporcionar relações responsivas e ambientes estáveis para as crianças, e as crianças podem desenvolver sistemas saudáveis de resposta ao stress e uma arquitetura robusta do cérebro.
Então e se não conseguirmos eliminar os factores de stress? Onde entra a resiliência?
As mesmas experiências precoces adversas não têm o mesmo efeito em todas as crianças, sendo que algumas crianças superam melhor as dificuldades e desenvolvem mais resiliência que outras. Uma maneira de entender o desenvolvimento da resiliência é visualizar uma balança. Se existirem fatores protetores (ex. experiências positivas de vida, relações de apoio, competências para gerir problemas, etc.) a contrabalançar e a sobrepor-se aos fatores de risco, com o tempo, o impacto cumulativo destes fatores pode direcionar a saúde e desenvolvimento da criança para resultados positivos.
Imagem de Center on the Developing Child de HarvardEntre os fatores protetores que ajudam a desenvolver a resiliência destaca-se a existência de pelo menos uma relação estável e suportiva com um cuidador, e competências de planeamento, monitorização e regulação do comportamento que permitem que as crianças respondam de forma adaptativa à adversidade e prosperem.
Esta combinação de **relações de apoio, competências adaptativas e experiências positivas** são a base da resiliência. Destacam-se ainda fatores como: a autoeficácia e autocontrolo percebidos; oportunidades para fortalecer as competências adaptativas e capacidades de autorregulação; fontes de fé e esperança; e a experiência de lidar com ameaças possíveis de gerir e com stress positivo.Embora o cérebro e outros sistemas biológicos sejam mais adaptáveis no início da vida, nunca é tarde demais para construir a resiliência. Por exemplo, exercício físico regular, práticas de redução do stress e programas que desenvolvem funções executivas, podem melhorar a capacidade das crianças e adultos para enfrentarem, se adaptarem e até prevenirem adversidades nas suas vidas.
Os adultos que desenvolvem essas capacidades em si podem modelar comportamentos saudáveis nos seus filhos, melhorando assim a resiliência da próxima geração.
Em suma, no último passo deste guia, destaca-se a importância das relações responsivas e de apoio (entre adulto-criança e adulto-adulto), bem como a importância de desenvolver competências adaptativas, de reduzir fontes de stress e de construir a resiliência, tanto nos adultos como nas crianças.
Traduzido e adaptado de Center on the Developing Child. The Science of Early Childhood Development. Retrieved from https://developingchild.harvard.edu/guide/what-is-early-childhood-development-a-guide-to-the-science/
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