Birras no caminho casa-escola

Birras no caminho casa-escola

Gerir as birras no caminho casa-escola nem sempre é fácil. Há crianças que odeiam andar de carro, que começam a protestar assim que se sentam na cadeirinha, e há viagens que podem ser um verdadeiro inferno e um desafio à nossa sanidade mental. Há crianças que choram porque não querem ir para a escola, outras simplesmente porque não querem andar de carro, outras porque se estão a ressentir de uma manhã apressada e caótica…podem ser vários os motivos e é importante tentar percebê-los para dar a melhor resposta. Ajudar as crianças a gerir estas birras é especialmente difícil quando vamos no lugar da frente, a conduzir, e a prestar atenção ao trânsito, sem disponibilidade de estar sempre virados para trás, a brincar e a conversar. Não existem soluções mágicas, e às vezes tentamos de tudo, mas sem sucesso, e temos mesmo de aguentar o choro até ao fim da viagem… Mas no geral, existem algumas estratégias que podem funcionar melhor ou pior consoante os interesses da criança, e que podem tornar as viagens mais fáceis:

  • Música e histórias: Cantar músicas, preferencialmente músicas que a criança conheça, ou deixar músicas da carochinha e do gosto da criança a tocar no telemóvel. Quando a criança gosta de ouvir histórias pode contar histórias à criança, ou pôr histórias a tocar no telemóvel.
  • Comida: Consoante a idade da criança, a verdade é que ter bolachinhas sempre à mão e um copo/garrafa de água pode ajudar.
  • Objetos de afeto: Leve consigo um objeto que a criança possa agarrar para se consolar, desde a chucha, à fraldinha, a um peluche .
  • Surpresas: Crie uma malinha surpresa com diferentes brinquedos e objetos que a criança possa ir explorando durante a viagem (desde livros, a bonecos, cartões com imagens, frasquinhos, molas, lápis de cera e um bloco…). Podem ir mudando o conteúdo da malinha com alguma frequência para manter o efeito surpresa. Atenção que se a criança enjoar convém evitar estas atividades que requerem uma fixação próxima.
  • Conversar e ver a vista: Ir comentando o que se passa com a criança, desde o semáforo que está vermelho, à mota que faz “brumbrum”, ao autocarro, ao avião, ao senhor que vai a passear o cão, ao carro que está parado na via tentando imaginar porque terá avariado…
  • Compreensão: Valide os sentimentos do seu filho, as crianças tendem a cooperar quando se sentem mais compreendidas (ex. “sei que estás zangada porque não gostas de andar de carro”, “sei que estás farta de estar na cadeirinha”) e reflita os seus próprios sentimentos (ex. “eu também não gosto do trânsito, se pudesse estalava os dedos e estávamos em casa.”, “vamos contar até 10 e respirar fundo para nos acalmarmos”).
  • Jogos: Para os mais velhos pode funcionar bem fazer jogos, desde adivinhar a cor do carro que vai passar a seguir, a inventar nomes para os carros, ao stop, às rimas…
  • Humor: Fazer palhaçadas, caretas, brincadeiras e vozes tontas, levar um boneco à frente que de vez em quando dança e faz cucu, dançar de forma tonta, etc., o que o divertir a si e ao seu filho serve.
  • Temperatura: faça circular ar fresco abrindo a janela, às vezes a criança pode estar desconfortável pelo excesso de calor.
  • Cadeirinha especial: deixar a criança decorar a sua cadeirinha do carro com autocolantes também pode ser entusiasmante e torná-la mais especial.

No fundo é preciso ser criativo e perceber o que funciona melhor com cada criança em específico. Há crianças com quem até funciona melhor simplesmente estar em silêncio. Vá percebendo por tentativa e erro o que funciona melhor com vocês. É também importante encontrar aquilo que o faz relaxar a si e manter a calma. Seja respirar fundo, contar, cantar, imaginar um lugar relaxante… A verdade é que quando nós próprios perdemos o controlo fica mais difícil gerir tudo, mas somos humanos, e, portanto, não se desespere, se hoje não correr bem, amanhã é outro dia e pode correr melhor. Boa viagem!

Joana Nunes Patrício

Joana Nunes Patrício

  • Licenciada em Psicologia pelo ISCTE-IUL
  • Mestre em Psicologia Social e das Organizações
  • Participação em projetos de investigação e intervenção social e comunitária na área da proteção a crianças e jovens em risco, na área da parentalidade, e na área da educação.
  • Membro da ISPCAN - International Society for the Prevention of Child Abuse and Neglect

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